Avenida principal, a caminho da rodoviária, um rapaz, doravante denominado H, abre sua carteira e entrega seus últimos cinco reais a favor do jantar de um mendigo. Ao chegar, passa alguns minutos encarando os salgados no balcão da cantina contra o olhar ansioso da vendedora, doravante denominada M.
M: Vai querer alguma coisa?
H: Estou a me perguntar que gosto tem o peito do peru.
M: R$3,00
H: Na verdade estou é com sede, quanto é o Tampico?
M: R$2,50
H: Vou levar os dois, mas vocês aceitam cartão? (Diz após abrir a carteira, possivelmente se lembrou do mendigo).
M: Débito?
H: Isso, eu...
M: A senha, por favor.
Demora um pouco, e eis que a mulher volta:
M: Seu cartão não foi aceito.
H: Mas eu já mordi o salgado.
M: Você pode tentar de novo.
H: Aceita passagem para Ribeirão?
M: Não! (Supus que ela não achava muita graça das coisas nesta noite)
H: Bem, já que eu vou ser preso, vou tomar o suco também.
(linha ocupada, de repente uma pomba enlouquecida pousa no salgado e se entusiasma com o saco plástico do canudo)
M: Pode tentar uma segunda vez (terceira, na verdade) ou sacar no caixa eletrônico.
H: Tá, mas eu exijo que essa ave pague a metade.
M: Se conhecer o dono dela... (aêee, ela também tinha senso de humor)
Subitamente o rapaz vira para as poucas pessoas presentes na rodoviária e proclama:
H: EU QUERO SABER QUEM É O DONO DESSA POMBA BIRUTA.
Eis que, justamente um bêbado responde enquanto derruba um cabo de vassoura, mas não se aproxima.
B: Sou eu, pronto
H: Bom que o senhor confessa, seu pássaro é responsável por metade, aliás (e o cara tira uma HP da mala), por 54,55% dos meus custos neste estabelecimento.
O bêbado, estando mais para lá do que para cá não responde, ninguém mais influenciando no texto, talvez pelo vazio ou por terem tido dias cansativos faz nosso conto quase terminar por aqui. Acho que o rapaz foi ao caixa eletrônico e efetuou o pagamento.
Pouco depois, vejo-o a ouvir Nelly Furtado (tudo bem estar sem fone na rodoviária deserta) sentado nas escadas quando se aproxima um homem com um cabo de vassoura, outrora já me referi a ele como Sr. B:
B: Ô colega, será que você tem aí umas moedas pr’eu comprar comida pro meu pombo?
Chega o ônibus, aproxima-se o Armando, e vamos a Ribeirão.
Imagem: stranger_at_the_station_by_leugne-d3946ou, DeviantArt
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