domingo, 12 de fevereiro de 2012

O Abraço de Ágata, Parte I

    Até hoje me pergunto como Alex conseguira o helicóptero com o qual pousara sobre o Araucaria Hotel na presença de dois comandantes da força aérea na manhã daquele sábado de verão. Contara-me apenas o que se passou depois, infiltrou-se na rede com um tablet e surrupiou uma luxuosa reserva.
    Como um bom conhecedor de vinhos, Alex não se deixaria inebriar perante as formidáveis opções. Portanto, a única dificuldade foi não ser visto por um dos carregadores, seu vizinho de infância, afinal, fora nessa mesma cidade que frequentara os primeiros anos de escola. Depois vivera em Londres, em São Paulo, em Montreal, em Paris e em mais onze cidades de sete países. Para ele, o maior problema em se tornar conhecido, estava em não poder ser como e quem bem entendesse. Não era popular, porém notório. Aqui, Alex, mas sabe lá quantos segredos criara pelo mundo.
     Em frente à Pub de Emperor Peter, na charmosa Stone Pointed Avenue, dois Porsche, duas Ferrari, um Lamborghini e alguns Camaro entre os mais belos da noite.  Na poltrona em forma de trono, sentava-se Lord Andrew ao lado de sua esposa e outros três convidados. Não longe dali, a mais bela das mesas, com a filha de Sor Zanon, as irmãs Mobiglia, uma senhorita ruiva de sobrenome desconhecido e uma moça vestida com tecidos leves, um curto short vermelho e uma blusa negra com alças finas, depravada o suficiente para sequestrar olhares, mais ainda cortês, de modo que homem algum se sentiria homem o suficiente para se aproximar.
    Porém nem sua sensualidade, nem a da Srta. Zanon, da ruiva ou das cobiçadas irmãs Mobiglia poderiam se comparar à mais ilustre presença da noite: Francine. Quando sorria, uma covinha na bochecha direita diria que ela era humana, porém ao curvar seu rosto a fim de fitar um dos ombros, seus olhos verdes se fechavam para o piscar, o movimento dos cabelos permitia a reflexão da luz na argola de prata, podia-se notar o início de um sorriso, e era, indubitavelmente, o sorriso de um anjo. Bela, dama, elegante, egrégia.
    O que eu não faria para servir aquela mesa, mas estava em boa companhia, um dos garçons mais experientes. Walter destacava-se mais pela simpatia, pelas duas da manhã esteve ao lado da banda a dançar 4 Non Blondes; porém isso foi horas depois da entrada de Alex.
    Alex sentou-se em mesa vazia e escolheu um Garibaldi sem álcool. Sua presença era uma das poucas que me recordava as histórias de meu avô. Walter fora seu aprendiz e guardava a adega no tempo em que homens lamentavam ou comemoravam os eventos de um mundo mais consciente e ativo perante suas injustiças.
    Hoje é diferente, não há blues nem violinos. Embora o Emperor Peter mantivesse o Rock Alternativo, na lembrança de que as músicas, por entrarem antes na alma, pudessem levá-las boas emoções, já não existe a pista de tango e os encontros duram menos que nas histórias de vovô. Duas horas, às vezes um pouco mais – ou menos, se considerarmos apenas o tempo com todos à mesa – depois disso inicia-se a troca de mensagens eletrônicas, uma comunicação estranha, sobretudo quando o encontro é para matar saudades.




Continua.



Imagem: The Redhead by ~solucha, DeviantArt

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