Escrevamos um conto, baseado ou não em fatos reais. Este, quem sabe, sirva de lição para que, nos próximos, saiam bons romances policiais (a rima foi sem querer).
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Foi em julho de 1969. Quanto ao dia, lembro-me bem; foi antes do lançamento da Apolo 11; na noite que se seguiu ao acidente com a N1 Rocket, do qual poucos souberam no ocidente. De fato, a notícia passou-me despercebido, embora me pudesse tomar horas em outras ocasiões.
Naquela noite, porém, tinha mais interesse em tomar horas no salão do último andar daquele prédio vazio em construção sobre aquela lua alaranjada.
Estávamos na cidade para investigar o caso do desaparecimento de uma química, recém contratada em um estaleiro.
Outra química, colega dos tempos de faculdade me acompanhava na perícia, quando decidimos, durante um jantar a três – Ela, eu e seu marido inquieto – visitar a construção dos novos alojamentos, parada há alguns meses. Se bem me lembro, o rapaz já havia deixado a mesa quando da decisão.
Abandonado; completamente vazio parecia-nos, o edifício, à primeira vista. Num quarto, porém, uma mesa de madeira pouco densa e já corroída, um resto de lamparina e um caderno com nomes ligados a datas. O dela estava lá, junto a um oito ou nove de novembro de sessenta e oito e, na contracapa, um tanto suja de cera, “admissão”. Nove de novembro de 1968, anúncio da venda do estaleiro a desconhecida empresa de pesca britânica.
Em um segundo quarto não vazio, um depósito de rolos e latas de tinta ressecada. No final do corredor no segundo andar, entramos juntos no banheiro inacabado, já quase não podia resistir e acredito que ela tenha notado pelo espelho. Porém, foi em um canto do salão, eu a conduzi para lá – mas bem que estava curiosa, e de vermelho! Em vestido de setin pedindo para ser arrancado.
Apesar do chão áspero sobre a escada, o vestido bem desceu uns dois degraus e nós subíamos, quase ao sótão, próximos a um buraco sem sua porta ou janela, de onde se viam algumas estrelas.
Ela gritava e gemia tão e qual a madeira que prendia o sótão. Seu corpo moreno inclinado para trás, sentada contra a cadeira jogada na escada e as batidas ainda mais fortes na madeira que levava ao sótão. Minha face, porém, atritava em outro ritmo.
Empurrei a madeira, o sótão, branco, um laboratório; uma loira – bem loira – pouca coisa acima do peso saltou sobre meu ombro. Minha parceira entrou para investigar: presa, há meses, forçada a pesquisar; mas onde estavam os outros cientistas? Só ouvi dizer “deixaram-me sozinha agora”, uma máquina inacabada com cordas, facas e algemas.
Recuei dois passos, ela encostou a madeira com o pé, em seguida conheceu a cadeira sobre a escada. Quando o ácido terminou de corroer a porta, o caso estava encerrado.
Imagem: Erotic by Orzz / UFPE química.
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