sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Nataliano


Bellísimo é o tempo de natal                                                  
Veste-se nossa cidade de estrelas                                        
Feito aquelas que sentimos no campus                                
Tal que meu canto é, portanto, revê-las.                          

Concebo as noites dos natais de outrora                          
Venustas quão máscaras de Vêneto                                
Num aconchego a lareira acalora                                    
Brinde Bellini, panetone e pêssegos                                

Como laureio, o lápis lapisa                                            
Companhia, sonido e fina brisa                                      
de Flauta, Casta Diva e Mona Lisa                                  

Raro o que iguale esse palco sublime                            
Pois tanto vale quem brilho retine                                  
Felice Natale, Na’tália Bellini

sábado, 21 de julho de 2012

Despedida de Ribeirão Preto

Em minha terra palmeiras imperiais
enfileiram-se ao longo do ribeirão
Singra em sonho US Amália sem estação
na praça de Shimidt, rei dos cafezais

Aqui córrego corta o caminho do chopp
Luzes cintilam no chão céu de estrelas flamas
Em lamacentos cartéis com condutas torpes
Corruptos coronéis corroem a Câmara

Mas se um novo vendaval faz com que falais
Adeus à Catedral, Theatro e tudo mais
Relembre do passado e vá com Deus em paz

Logo então vai um engenheiro, que se despede
do amor primeiro: a luzitana Giovana
Na escola em uma Vila ribeirão-pretana



Glossário:
Singrar: velejar
US Amália: locomotiva abandonada na Praça Francisco Schmidt – Vila Tibério
Caminho do chopp: alusão ao túnel que ligaria a choperia à cervejaria
Vendaval: referência ao tornado de 1994 que marcou a história da cidade
Luzitana (com z): avenida de Ribeirão Preto

Ágata Morilla



Se possível fosse, eu mergulharia
em nossa fotografia, daquele Festival.
Tu, bela menina, que minha não seria,
mas foste por um dia o amor deste mortal

E agora o engenheiro, distante por inteiro,
só antigo companheiro de um mundo irreal
não sabe o que é lágrima, incapaz de virar a página
e esconde feito nada em aventura teatral

Fora o brilho ofuscando em doravante desengano
por opiniões, por engano em uma rede virtual.
Covarde desvairado ou um nerd abobado
outrora encantado em passado cabal.

Hoje olho para a foto de um tempo já remoto,
em instantes já denoto saudades do notório nosso festival

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Em tarde calma, treino poesia


Pensando na vida
vi-me de partida
por estrada perdida
sem saber onde chegar

fui sem despedida
por estranha avenida
aqui dentro querida
decidido a trabalhar

foi que um belo dia
decidi que usaria
outra forma de falar

usarei apenas verso
e, assim, se desconverso,
é por que não sei rimar

logo me justifico
estes versos mirifico
pondo exemplo no lugar

“lá na frente de repente
um andante vem contente
com seu dente coerente
ontem quebrado por azar”

pergunto que rima é essa
feita assim toda com pressa
não é isso que interessa
e hoje vou te explicar

rima rica deve ser
toante a se esconder
com prazer no atelier
como ouvir o som do mar

porém se assim elaboro
é por que este laboro
serve para ensinar

sábado, 14 de julho de 2012

Soneto do Pesar


Frio silente próximo à meia noite                                                    
Em meu quarto vazio de mundo estranho                                       
Acaso a graça partiu com o sol?                                                    
Ermos noturnos momentos distraem-me                                         

Caço no dia falta que não sei                                                         
Quiçá desde que seu beijo versejo                                                 
Perco-me sobre rumos e anseios                                                   
Tu, ofícios, espíritos e desejos                                                       

Tornei-me à minha amada um desatino                                          
Então tenho o dever de retornar                                                    
Num tempo que poema fosse mágica                                            

Faria deste um brado de perdão                                                   
Lembranças seriam doces, nostálgicas                                          
Jamais sinônimos de sofreguidão                                                  

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Meia noite nos cadernos


   Este é um poema que escrevi para um concurso em junho de 2011 e, caso fosse publicado, não poderia estar presente em outros lugares até então. Bem, hoje fiquei surpreso quando um postal que viera pelo correio me lembrara do concurso, porém o poema não foi publicado no livro, quem sabe eu escreva outro para o concurso deste ano.

MEIA NOITE NOS CADERNOS


Meia noite nos cadernos. Faz frio.
Só as mãos e a mente não desligam,
O corpo se prende ao sedentarismo,
Olhos se cansam do tanto que li.

Universidade, um’ verso restrito.
Queria ao menos deixar uma prece,
do muito que prezo embora impedido,
ao mundo lá fora que ela me esquece.

Pena que até a pena já decora
equações calosas. Experiente.
Só, não conhece o tempo que passou.

Na melhor do mundo a vida melhora
Se à custa das torturas vencerei.
Engenharia, rainha; serei rei.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Resumo das alegrias para Renato

No texto abaixo, embora tenha sido escrito enquanto assistia ao vídeo abaixo da Legião Urbana e utilizasse da letra da canção para escrevê-lo, "Renato" é o nome de um personagem, sem relações com a história do "Renato" cantor.
"Às vezes parecia
Que de tanto acreditar
Em tudo que achávamos
Tão certo...
Teríamos o mundo inteiro
E até um pouco mais
Faríamos floresta do deserto
E diamantes de pedaços
De vidro..."
Legião Urbana - Andrea Doria

Renato não era tímido, porém muito ocupado entre a graduação e demais atividades acadêmicas que participava na universidade.
Renato não era tímido, era, inclusive, ator. Porém tinha medo, medo de que as coisas não dessem certo ou que suas atitudes pudessem gerar uma imagem negativa, pois esta era seu principal objetivo, fazer sempre crescer o respeito do povo por ele, conhecendo mais pessoas e imortalizar seus feitos, servir de exemplo, fazer seus feitos servirem de referência.
Sobre a vida, conhecia um bom tanto em ciência, um tanto em política, esporte e religião, algo em artes e línguas, muito amizade, menos em conquistar mulheres e bem pouco em aproveitar a vida da maneira da maioria: festas, shows, amassos e perigos, embora gostasse de se surpreender, fosse fanático por novidades e preferisse filmes que o fizesse pensar e sentir. Gostava de viagens sem rumo, mas não praticava tanto estas aventuras além dos andares reflexivos pela cidade.
Quem sabe uma menina, uma menina o ensinasse quase tudo que não sabe, lhe mostrasse novos caminhos, planos e planos, embora o destino dele já estivesse ali, ela. E então será completamente feliz, em seus projetos nos empregos, na vida, no mundo, ao mundo... e em suas aventuras com ela,

sábado, 17 de março de 2012

A canção que todo nerd deveria ouvir


                Ribeirão Preto, interior de SP. Um ribeirão divide as zonas oeste e sul, divide a cidade entre ricos e pobres e a nascente deste rio se confunde com a nascente desta divisão: feudos, condomínios fechados, ilhas, grupos que decidem pelo mundo, desigualdade social.
                No entanto a desigualdade cultural não tem suas fronteiras tão claras e jovens de todas as regiões tentam vencer na vida. A vitória está associada a bons currículos, que, por sua vez, estão associados a boas experiências: cruzar o rio, conhecer a margem dos detentores do poder. E em uma reflexão sobre valer ou não a pena estudar no exterior e trabalhar pelo mundo no que o mundo espera (mesmo que este dinheiro seja destinado a projetos sociais), componho uma nova letra à canção Everybody’s Changing da banda Keane.
                Afinal de contas, o currículo nos pode trazer admiração, mas não nos traz amor. E a vida como lhe ditam na outra margem nem sempre é a mesma que lhe fará feliz.


Música: to cross the stream (atravessar o ribeirão) 
(alterada com base em Keane - Everybody’s Changing)
 
You live trying to cross the stream (Você vive tentando cruzar o ribeirão)
But when I ask you about, (mas quando eu te pergunto,)
you don’t know to explain (você não sabe explicar)

You progress, you go on (você proguide, você avança)
And I can see the will in your eyes (e eu posso ver a vontade em seus olhos)
Says, it's the world's wish (diz: este é o desejo do mundo)
though I don't know why (embora eu não saiba o porquê) 

A whole life of dedication to some aim (uma vida inteira de dedicação a algum objetivo)
Life makes no sense when the aim doesn’t have the same aim (a vida não faz sentido quando o objetivo não tem o mesmo objetivo)
Try to stay awake and remember your hand (tente ficar acordado e relembre sua origem)
‘cause life is a mystery that you have to control (porque a vida é uma incógnita que você deve controlar) 

If you go from here (se você partir daqui) 
Maybe you will be disaffect (talvez você estará desafeiçoado) 
Unlearning that love is what counts (desaprendendo que amor é o que conta) 
So why don’t you understand (então por que você não entende) And make your own life? (e construa sua própria vida?) 

Now is the time of understand about life (agora é o tempo de entender sobre a vida)
She’s not that story of playing a game (ela não é aquela história de jogar um jogo)
Try to stay awake and remember your hand (tente ficar acordado e relembre sua origem)
Let it makes you happy and please do her the same (deixe a vida fazer você feliz e por favor faça o mesmo a ela) 

Now is the time of understand about life (agora é o tempo de entender sobre a vida)
She’s not that story of playing a game (ela não é aquela história de jogar um jogo)
Try to stay awake and remember your hand (tente ficar acordado e relembre sua origem)
Let it makes you happy and please do her the same (deixe a vida fazer você feliz e por favor faça o mesmo a ela)


Talvez eu pudesse ganhar o mundo, ser bilhonário longe daqui, mas este não seria eu.

Letra original:
You say you wander your own land
But when I think about it
I don't see how you can
You're aching, you're breaking
And I can see the pain in your eyes
Says, everybody's changing
And I don't know why
(Chorus)
So little time, try to understand that I'm
Trying to make a move just to stay in the game
I try to stay awake and remember my name
But everybody's changing and I don't feel the same
You're gone from here
Soon you will disappear
Fading into beautiful light
'Cause everybody's changing
And I don't feel right
(Chorus Twice)
So little time, try to understand that I'm
Trying to make a move just to stay in the game
I try to stay awake and remember my name
But everybody's changing and I don't feel the same

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O Abraço de Ágata, Parte I

    Até hoje me pergunto como Alex conseguira o helicóptero com o qual pousara sobre o Araucaria Hotel na presença de dois comandantes da força aérea na manhã daquele sábado de verão. Contara-me apenas o que se passou depois, infiltrou-se na rede com um tablet e surrupiou uma luxuosa reserva.
    Como um bom conhecedor de vinhos, Alex não se deixaria inebriar perante as formidáveis opções. Portanto, a única dificuldade foi não ser visto por um dos carregadores, seu vizinho de infância, afinal, fora nessa mesma cidade que frequentara os primeiros anos de escola. Depois vivera em Londres, em São Paulo, em Montreal, em Paris e em mais onze cidades de sete países. Para ele, o maior problema em se tornar conhecido, estava em não poder ser como e quem bem entendesse. Não era popular, porém notório. Aqui, Alex, mas sabe lá quantos segredos criara pelo mundo.
     Em frente à Pub de Emperor Peter, na charmosa Stone Pointed Avenue, dois Porsche, duas Ferrari, um Lamborghini e alguns Camaro entre os mais belos da noite.  Na poltrona em forma de trono, sentava-se Lord Andrew ao lado de sua esposa e outros três convidados. Não longe dali, a mais bela das mesas, com a filha de Sor Zanon, as irmãs Mobiglia, uma senhorita ruiva de sobrenome desconhecido e uma moça vestida com tecidos leves, um curto short vermelho e uma blusa negra com alças finas, depravada o suficiente para sequestrar olhares, mais ainda cortês, de modo que homem algum se sentiria homem o suficiente para se aproximar.
    Porém nem sua sensualidade, nem a da Srta. Zanon, da ruiva ou das cobiçadas irmãs Mobiglia poderiam se comparar à mais ilustre presença da noite: Francine. Quando sorria, uma covinha na bochecha direita diria que ela era humana, porém ao curvar seu rosto a fim de fitar um dos ombros, seus olhos verdes se fechavam para o piscar, o movimento dos cabelos permitia a reflexão da luz na argola de prata, podia-se notar o início de um sorriso, e era, indubitavelmente, o sorriso de um anjo. Bela, dama, elegante, egrégia.
    O que eu não faria para servir aquela mesa, mas estava em boa companhia, um dos garçons mais experientes. Walter destacava-se mais pela simpatia, pelas duas da manhã esteve ao lado da banda a dançar 4 Non Blondes; porém isso foi horas depois da entrada de Alex.
    Alex sentou-se em mesa vazia e escolheu um Garibaldi sem álcool. Sua presença era uma das poucas que me recordava as histórias de meu avô. Walter fora seu aprendiz e guardava a adega no tempo em que homens lamentavam ou comemoravam os eventos de um mundo mais consciente e ativo perante suas injustiças.
    Hoje é diferente, não há blues nem violinos. Embora o Emperor Peter mantivesse o Rock Alternativo, na lembrança de que as músicas, por entrarem antes na alma, pudessem levá-las boas emoções, já não existe a pista de tango e os encontros duram menos que nas histórias de vovô. Duas horas, às vezes um pouco mais – ou menos, se considerarmos apenas o tempo com todos à mesa – depois disso inicia-se a troca de mensagens eletrônicas, uma comunicação estranha, sobretudo quando o encontro é para matar saudades.




Continua.



Imagem: The Redhead by ~solucha, DeviantArt