sábado, 18 de dezembro de 2010

Melro, um conto de natal


 Somente uma vez a Serra de Batatais não é vista azulada do sudeste, quando da Tempestade do Barco Branco no dia em que se costuma doar sangue, então o céu também não tem rei, somente Deus.
Todavia o pequeno avião enfrentava, perdido entre as montanhas. Três homens, um, o piloto, vislumbrava sua recompensa; o segundo, se as algemas estariam bem presas e, o terceiro, Alex Roger, no escuro, vislumbrava apenas aquela garota de olhos verdes na primeira fila, lá embaixo, ao som daquela segunda ópera, qual era mesmo o nome, aquela que tocou após O Guarani... Uma explosão ou foram as rodas que tocaram o solo? Belo Horizonte, cinza.
 Longe dali, onde partira a aeronave, o jornal estampava o caso do mendigo que salvara a bela e jovem figurinista Larissa Eleonora da colisão contra um caminhão.
- É um Melro, gritava um senhor vestido de tecido sintético a lembrar pele de cabra, como do cordeiro esculpido na proa seu pequeno barco na lagoa da Pampulha, Belo Horizonte.
-Não é um Melro, doutor, é cigarra bambu. –Respondia seu sobrinho marinheiro, suboficial na verdade, da marinha do Brasil.
-É um Melro; ora, venha cá pequeno Melro – E o pássaro partiu para cima de uma rocha onde os navegantes encontraram um rapaz de vinte e poucos anos, apenas um pouco ferido. Somente carregava consigo suas vestes e um embrulho em seu bolso, um presente, um relógio. Tomou uma carona até a margem e agradeceu, caminhou, confuso, em direção à Universidade Federal de Minas Gerais. Repousando sob uma árvore de natal, outro homem surgiu a seu encontro.
-Berold.
-O que?
-Meu nome, Berold, qual o seu?
-Melro.
Melro procurou por si e identificou-se com aulas de resistência e ciência dos materiais enquanto caminhava pela universidade. Em período de provas finais, o coordenador do curso de engenharia mecânica compreendeu sua situação e os estudantes cederam asilo no alojamento. No entanto, a greve atrasou o envio de e-mails para demais universidades e Melro ficou até as provas, talvez aquele fosse um caminho que o lembrasse de quem era. E tirou dez em todas, fechando com cinco, sendo aprovado no quarto semestre da graduação.
Perto das cinco da tarde, Berold corre na direção de Melro e tenta falar com voz cansada:
-Desculpe, não pude ouvir seu nome. Você é aluno de engenharia, da EESC, no interior de São Paulo e temos de partir agora. –Sem ter o que arrumar ou em quem não confiar, Melro entrou no carro de Berold. Seu amigo dissera que vivia em Minas, Sacramento, divisa com São Paulo, onde passaria as férias. Não ouve tempo de ouvir o nome verdadeiro, somente a impaciência do policial civil contra o coordenador em uma discussão de poderes para invadir o campus e prender um bom aluno de uma escola paulista.
Pararam em um restaurante de Nova Serrana.  Berold, no entanto, ficou no carro enquanto a comida esfriava na mesa por tanto encarar o relógio. De repente surge um homem de cinza, bem vestido, mas com um dente um pouco maior e mais escuro que os demais. Senta-se tentando esconder sua preocupação, encosta os ombros na mesa, cruza os dedos em frente os lábios e diz calmamente:
-Aquele seu colega, o policial...
Melro não hesita, levanta, corre, atravessa o balcão, procura a saída dos fundos, entra em uma casa onde crianças brincam; sala, um telefone toca; cozinha; quintal, um cachorro, é pequeno, pula o muro; um terreno abandonado, corre; dois carros o espera: um marrom, donde um homem com dentes de ouro acena; no outro, Berold, negro em carro prata, comum. Melro corre entre os dois, vira duas esquinas, volta ao restaurante e retoma o relógio, por fim entra freneticamente no carro do amigo.
Foram dez minutos de silêncio até tentar repetir que mal sabia quem era e muito menos em quem poderia confiar.  Berold, entretanto, interrompeu e pediu para que confiasse nele uma última vez e deixá-lo-ia partir sozinho.
Pararam então em Luz, quando seu companheiro negro desapareceu em meio a um grupo de ciganos. No carro, um rabisco atrás do embrulho rasgado, QP3 e disso ele se lembrava, Quarteirão Paulista, terceiro prédio, Palace Hotel, noite de natal, festividade do amigo secreto... E de nada mais.
O combustível acabou próximo a Capitólio, de onde partiu a pé, por apenas meia hora até tomar carona em um caminhão de laticínios com destino a Passos. Em uma balança na entrada da cidade, a polícia pediu os documentos do motorista e um senhor de óculos pediu que Melro descesse.
Contou que vinha no carro de seu amigo Berold para o Palace Hotel, cuja festa natalina seria importante para descobrir a si próprio.
-Vou deixar que o pássaro voe, no limite de velocidade, é claro. É natal e se o encontro é tão importante para você, tome minhas chaves e dinheiro para pedágio e combustível.
E Melro atravessou as terras de Vaccarini, de Fiúca e Portinari, alcançando o quarteirão paulista, na capital da cultura em uma chuva sem trégua na noite de natal.
Entra no hotel, um imenso salão vazio onde as luzes se acendem.
-Olá, Alex – Diz Diogo, seu amigo de infância.
-Eu conheço você – respondeu – Alex...
-Sim, o outrora grande Alex Roger, mestre das...
-mestre das P2.  Meu nome, Alex Roger.
-Ele disse que se reconheceria ao dizer seu nome, pois, de verdade, é o que mais importa, mais que saber quem és, conhecer com quanto orgulho pode ouvir seu nome.
-Quem disse isso?
-Seu psiquiatra, a quem você deve um tanque e um pedágio.
-O policial? Por que eu tenho um psiquiatra?
-Alex, escute, você fugiu em um avião, deve ter batido com a cabeça no fundo da lagoa, mas se levantou, roubou um carro, abasteceu em outra cidade e o deixou depois de cento e cinqüenta quilômetros em um circo abandonado, sem combustível.  Você está em todos os jornais da região e sites da cidade. Você mandou matar Larissa Eleonor.
-Eu não matei Larissa!
-Claro que não, ela está ali, se preparando para a peça. –Tentou correr para a saída, Diogo o deteve, escorando-o na porta com o punho em seu colarinho. – E a polícia está lá fora, à sua espera, a menos que eu o convença a voltar para o carro e se dirigir à clínica. Agora relaxe. Eu tenho aqui – abriu seu computador e mostrou uma reportagem – o depoimento do mendigo que a retirou do carro antes do acidente.
Mas o homem da foto possuía um dente maior e mais escuro que os demais. –Diogo, agora é você quem deve acreditar em mim. Este homem tentou me separar de Berold.
-Alex, de uma vez por todas, não existe Berold na UFMG, nem em Sacramento, nem ciganos em Luz. Estão te seguindo desde Passos e já procuramos pelo que dissera.
-Uma sósia, alguém tomara o posto de Larissa no teatro e capangas, sim, capangas. O mendigo era o homem do restaurante ou o segundo homem no avião.
-Você não pode criar uma história para...
-Eu te posso entregar teu presente?
Diogo o soltou, uma chance, mais uma chance. Larissa não deveria estar longe dali, talvez na pequena sala sob o proscénio, ninguém mais entra lá, onde o diretor respondia a pontos, donde somente se entra pelo palco ou pelo túnel da antiga lenda da cervejaria. Contudo, a peça iria começar.  Alex estava ágil e ofegante:
-Você distrai o público, Diogo. E correu rumo ao teatro.
-Mas o que digo?
-Ora, vamos logo, fale sobre os Melros.
-E o que há com os melros? E o que lá são melros?
-Melros são como pardais, mas são melros. Distantes no espaço; longe, tão comuns, perto, tão raros. São como os heróis; tão distantes no tempo que às vezes pensamos que não mais existem, mas existem sim, e, assim tão perto, vestindo outras penas.
Então corre Melro, vai Alex Roger, coberto, entra no palco e imita as asas do pequeno pássaro até atingir a entrada do poço. Diogo proclama aves e ventos, Larissa lá está, mas não é Larissa, é sua sósia, sua irmã, que volta à coxia e liga para seus capangas. Embaixo da madeira, abaixo de seus pés, Alex Roger encontra a porta.
Por toda a Alta Mogiana já se contou a lenda do poço entre a choperia e a antiga fábrica, hoje, abandonada, e vítima das enchentes. Deveria ser um museu, um santuário... Muita água, até há um barco ali, uma gôndola. Suas paredes centenárias resistem e seu relógio ainda respira e bate meia noite quando os dois jovens apaixonados se reencontram, bate meia noite quando a polícia prende os capangas, meia noite, noite de natal e lá vão os jovens navegantes entre as palmeiras do ribeirão. 


Imagens: 
No Ordinary Rain Storm by phatpuppy, deviantart 
Blackbird, by FoolEcho, deviantart
Cervejaria Riebirão, adaptado de estudios-kaiser-de-cinema, guiacidades.wordpress.com

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Chovia

   A princípio, liguei o rádio, mas preferi o barulho da chuva e os sons que habitualmente se ouve nos dias desertos do campus, tentando acompanhar as ondas sonoras que vinham de longe ou de um quarto do andar de baixo.
Quando as meias são calçadas
   Tive de passar manhã e tarde de chinelos, pois as meias quiseram assistir por mais tempo ao espetáculo das gotas de chuva entre as folhas e optaram por não secarem; até arrisquei apresentar um secador no 220V a um par antigo, mas se molharam no caminho, com tantas flores amarelas caídas na rua escura ao lado das quadras de tênis.
   Ao voltarmos, dois amigos encontrei nas escadas, com quem passara o dia no cenárico prédio da química em cálculos de mecânica dos sólidos. Meu lanche já estava comprado, vão com Deus.
   Há pessoas imprescindíveis neste mundo, às vezes um andante (ou pulante) desinibido ou dois tímidos na mesa homens do canto da lanchonete, cujos trabalhos... Então você pode em paz e confortavelmente curtir a vida quão intensamente e mais a toda ansiedade pela aventura que lhe ferve quando as meias são calçadas.

Gabriele Sophie

   Gabriele Sophie mora no 323 da Rua Suíça aos seus vinte e vinte mesmo anos de idoneidade e cacoetes... Chove muito por estes dias - depois de inverno tão seco - e a quarta-feira promete muita água. Nesse dia Gabriele estará não muito distante da Rua Suíça, porém longe de sua casa verdadeira, longe das preocupações acadêmicas e longe donde se podem saborear bolinhos sobre o cobertor antes do pôr-do-sol.
   Com descrições já suficientes, contemos o que acontecera naquele dia.
   A barra a direita sustenta uma carga P. Considerando os conceitos de flexão e torção, utilizando os critérios de Tresca e Von Misses e um coeficiente de segurança lambda igual a dois, determine os valores admissíveis. Mas essa barra tem vários eixos, polias engrenadas, indeterminações... Pode ser feita, isso, questão valendo três prontos; a segunda, sete pontos, citar dez jogos do super nintendo. Jogava MegaDrive. Em geral, encontramos três grupos quase equivalentes por aqui, os que jogavam Nintendo, os que jogavam MegaDrive e os que não jogavam. Mas aqueles primos, Mário, tem também o Zelda e aquele outro de corrida...
   Mas professor, que injustiça, a segunda questão não deveria valer sete pontos! Prova às cinco da manhã? Escova os dentes, desce a escada, há homens de terno e chinelos lá em baixo. Olham para ela, por quê? Seguem a mesma direção.
   Espera, eles esperam. "Um café, por favor". Viera turvo, fazendo umas curvas, olha a curva do café, com um ponto branco girando. E tudo escuro, exceto um pássaro branco, mas ela sai do escuro, pergunta se era um Pidgeot e se estava no nintendo, tenta calcular a flexão das asas, mas não conhece muito bem de sistemas dinâmicos, embora aprendesse algo sobre vida durante os onze dias que namorou Rodrigo.
   Passa um homem saltitante brincando de equilibrista, parece criança. Mas e daí? Não vê problemas, ou melhor, vê problemas; mesmo sente, mas não se abala. Ele sabe, ele enfrenta, ele não se prejudica fisicamente, espiritualmente... Ele não se prejudica. Mas seria feliz? É feliz, este que só conhece a felicidade em todas as situações? Por que Gabriele Sophie se viu pensando nisso?
    Homens, muitos homens, e aqueles de terno e chinelos também se levantam, corre para o estacionamento, mas eles vão para a mesma direção, esquece os carros, esquece que se esquecera de algo. Contudo, dois carros sobrepostos? Aguentariam? Talvez se a interação molecular fosse... Não, é apenas um único carro. E os dois homens que se aproximam, na guia, a grama, a rampa...
   -Min.. mão?
   Depois achou que viu uma garota de branco. Gabriele Sophie recebeu alta do hospital na manhã seguinte.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A Menina do Rabo de Cavalo (ou: A Macieira)

    Alguns dizem que as mulheres devem soltar os cabelos para estarem mais atraentes, contudo, caríssimo leitor, numa floresta de suecas, catarinenses e tantas mulheres lindas, da macieira é que você sempre se recordará nos momentos de paz com o mundo.
    Existe uma menina com um rabo de cavalo que compõe a mais bela de suas memórias; felizes aqueles que um dia já sentiram sua luz. Ela intriga, pois é provável que você também, a quilômetros de distância daqui, já tenha visto aquela cuja principal característica é não existir outra semelhante e, já um dia apaixonado leitor, felicíssimo é aquele que mais uma vez pôde trocar cores com ela, cores da mais bela especificidade de relacionamento.
    Aconteceu comigo e fará dez anos nessa primavera, fora num acampamento e claro que sua equipe venceu, ou melhor, nossa equipe; sinto muito prazer em lembrar que fui parte importantíssima naquela conquista e, por isso, concluo hoje que ela deve ter olhado para mim.
    A menina do rabo de cavalo não se esforça em demonstrar sua beleza, é a mais graciosa e a mais esperta. Também não ambiciona comandar, todavia é líder nata. Não é tão magra, nem tão alta, é perfeita. Quando tu a assistes, vibras; quando chegas perto, teu corpo todo treme, quase (ou mesmo) perdes o controle. Tu desaprendes a falar; para ela, que homem tu és? Quem é cavalheiro suficiente? Contudo, se bem observares, ela respeita-te.
    Por que tremes cavalheiro, se com ela te animas, fazes rir - e ela gosta de rir -  e sente-se perfeitamente à vontade? Achas arriscado dizer que a ama, pois teme parecer mais um colmo num canavial.
    Encontra um momento, oculta os tiques nervosos e digas, com calma, “você é linda”. Ela irá sorrir, “muito obrigada”, alguma amiga a chama, elas vão; porém, e certamente, depositará um pouco disso em cada uma de suas flores, do mesmo sentimento que te deixará com aquela cara de bobo, sonhando com aquele sorriso, com o “obrigada” e tocar o céu ao ouvir em tua alma o “muito obrigada” da menina com o rabo de cavalo, graciosa, leve e delicada; espero que um dia dancem juntos.
    
    Há um texto machadiano que diz:
"Mulheres são como maçãs em árvores.
As melhores estão no topo.
Os homens não querem alcançar essas boas, porque eles têm medo de cair e se machucar. Preferem pegar as maçãs podres que ficam no chão,
que não são boas como as do topo,
mas são fáceis de se conseguir.
Assim as maçãs no topo pensam que algo está errado com elas,
quando na verdade, eles estão errados...
Elas têm que esperar um pouco para o homem certo chegar,
aquele que é valente o bastante para escalar até o topo da árvore."


Imagem: DeviantArt I don't like camping by j3ssko

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Ensaio de conto 2010.001

  Escrevamos um conto, baseado ou não em fatos reais. Este, quem sabe, sirva de lição para que, nos próximos, saiam bons romances policiais (a rima foi sem querer).

   Atenção: O texto abaixo possui conteúdo adequado somente para adultos. Em geral, o Google não revisa nem endossa o conteúdo deste ou de qualquer outro blog. Prossiga apenas se maior de 18 anos.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Karuhmaru

Sou sábio alvar, poeta impaciente
que detesta lembrar de suas dores.
Quando recorda, fere justamente
os que mais ama. Súbito delinquente

Ou se defronte, dois anos de costas.
Virou, foi olvidado; amou, partiu.
do triângulo o vértice distante
emborcas tudo varonil errante

Se já tarde poemas não te importam
Inda que ca'rla'mor ir ladeado
Quero cuidar-te ainda um mais momento

Minutos, por casmurro, não gozados
em difícil gesto lavrar um tento:
sentirmos de verdade nosso abraço

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Sexta-feira 20!

  -Dr, hoje eu nem vou pedir dinheiro, mas se o doutor puder voltar naquela música...
  Quiçá o mendigo de frente àquela rodoviária não tivesse ideia da tradução, porém fazia de seu significado.
  Foi que, em noite da semana seguinte, o tal doutor, que doutorado só tinha de vida, gravou um CD, imprimiu com a capa original, embrulhou para presente e entregou ao rapaz que quis ouvir no próximo carro, quando o jovem motorista acelerou.
   Gaspar, porém, não se sentiu mal, pois, quem sabe, a música ensina algo ao moleque. Fora, no entanto, o trânsito que o fizera acelerar, deu a volta naquele largo quarteirão, todavia não reconheceu o pedinte entre tantos e deixou o CD no chão.
   Uma menina o encontrou, sua mãe pediu que o largasse e o fez sobre o balcão da loja de instrumentos musicais a 100m e um pescoção de onde havia pego.

  Escrevi o texto acima em um celular de uns cinco anos, entre a entrada de uma cidade e sua rodoviária, domingo quinze de agosto. Continuaria a escrevê-lo e talvez continue e poste aqui.
  Uma sexta-feira vinte, é sexta-feira, mas, há uma semana... E hoje, está tudo normal? Hey, não durma ainda, é sexta-feira, é muito bom dirigir à noite pelo centro, vá ao shopping vazio, converse. Não é sexta-feira 13, que possamos não ter medo de simplesmente conversar.
  E qual seria a história daquele pedinte?

sábado, 31 de julho de 2010

Além da fotógrafa


  Já tem algum tempo que comecei a supor que posso levar certa dificuldade em acertar a idade de mulheres, mas garanto, caríssimo leitor, que aquela linda mulher de longos, e bem longos, e lisos, e bem lisos, cabelos pretos, e bem pretos, não teria mais que vinte e um anos, embora todo seu traje profissional, que não pôde esconder sua sensualidade, aparentasse ser a mais eficiente e experiente da grande e noturna cidade de Ribeirão Preto, da velocidade de São Paulo com o tempero das Minas Gerais.
   Naquela noite, todos os holofotes apontavam para o novo, principal e mais belo prédio da mais bela avenida, ao qual eu denomeio Empire. E, logo em frente, na rua marginal, no buffet infantil, por que aquela fotógrafa cobria outro evento?
   Ela é perfeita demais para... ou talvez por ser perfeita demais, se é que a perfeição admite advérbios, fotografava o aniversário dos jovens príncipes, assim os chamo devido ao tratamento que recebem em sua festa na altíssima sociedade.
   Todavia, ela parecia-me triste, diria decerto ser apenas um resfriado; mas, caríssimos leitores, algo teria ocorrido, algo como discussão com o namorado, decepção profissional; esbanjava felicidade com as fotos, mas parecia não querer estar lá. Quem era ela de verdade? Extremamente sensual, mas do lado certo das câmeras?
   Caríssimo leitor, do lado certo das câmeras! Misteriosa, despercebida e a mais bela da festa, não apenas de uma festa infantil, mas de qualquer festa em que estivesse a trabalho. Perto dela, qualquer homem é um moleque de catorze anos tentando descobrir algo sobre mulheres em sua primeira festa longe dos pais. Não fale com ela, você irá gaguejar; contudo, não planeja milimétricamente seus passos, ela irá saber, ela conhece os homens, ela conhece seus passos, ela conhece todas as imagens, ela brinca com as imagens Toda glória a quem conquistar a fotógrafa.
   Mas quem ela é além da noite? Porque me parecia triste? Esconde outros desejos, esconde outra mulher?
   Fique com Deus, bela mulher misteriosa e até a próxima oportunidade. 

Imagens: liviasabenca.wordpress.com: Holofotes em Toronto / DeviantART: Nikon Addicted by ~BitterMuffin / Nikon Gal by ~MadamDove / Fotografia by ~in-somni

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Obsessão urbana

  -Por que tanto confessar sendo inocente?
   -Fui eu.
   -Droga, será que não dá para falar outra coisa, tento-te ajudar!
   -Fui eu. - E correu na direção da porta lateral que se abria dentro da delegacia da polícia federal da cidade de...
   Conversavam o casal de guardas atrás do vidro. Ele foi encontrado na Anhanguera e desde então só dizia aquilo. Havia também uma estrada de terra perto dali, onde três dias depois encontraram o artefato.

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   -Hoje é o melhor dia da minha vida, dizia Cecília a cada dia entre os três meses que conviveu com...
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   Foi de repente que Carlos decidiu partir; levou apenas uma mochila de uns dez litros na garupa da motobilete; dias depois ainda soube de um convite de emprego em Rondônia, pensou, mas não se arrependeu de escolher uma cidade longe, mas não longe o suficiente de Ana Beatriz.
  Ao chegar a Santa Luzia de Minas Gerais se perguntou finalmente o que estava fazendo lá; resolveu voltar; mas nem tanto. Exagerou no jantar, ainda que sozinho, em um belíssimo restaurante indiano em BH e viu que não teria mais dinheiro, pois cancelara sua conta no banco antes de partir.
   É difícil sumir hoje em dia; você conseguirá recuperar sua conta em outra cidade dentro do Brasil e o orkut não permitirá que você deixe alguém; pode ser que, involuntariamente, estará digitando o endereço dela no twitter.
    Quis uma cidade grande, ocupado o suficiente para se preocupar com as notícias do mundo, mas perto quando decidisse voltar, encontrou Hong Kong na internet, escolheu Londrina no Paraná.


    Conseguiu um emprego, afinal, Carlos era renomado na área, também fez um curso por três meses na UEL. Passou o natal na cidade e também suas primeiras férias, recusou doze mulheres, dois pedidos de namoro e uma oferta para trabalhar em Cuiabá. Também recusou o taxi e voltou a pé da PUC ao cambezinho, vendo-se no aeroporto, disposto a não voltar.
    Mas quando faria um ano que mudara de vida, soube que desta vez ela quem partiria. Noite difícil, assistiu sozinho na penúltima fila da igreja ao casamento mal contado de Cecília e, ao procurar por Ana Beatriz, chegou a dar pequenos socos em seu próprio rosto quando noticiado que esta viajaria para Londres, não em intercâmbio de seis meses como pretendia, mas para testemunhar a favor de Marcos, por falsificação de um famoso quadro de artista espanhol. Vasculhou uma meia hora até descobrir que se tratava de seu noivo.
   No entanto, Marcos não liderava a gangue, foi influenciado por seu amigo e quase chará, um certo Mark Oliver, a guiar o segundo furgão, o primeiro e único a ser apreendido, sem quadro, apenas com os dois latinos do bando.

   A neblina naquela manhã pareceu mais alaranjada que o costume, Ana Beatriz estaria desesperada. Carlos sempre considerou que o que ele havia feito havia sido pior: nada, nada fez por Ana Beatriz, por sua felicidade e acreditava que ela realmente sabia amar.
   Googou por Marcos; não era só Marcos, era Marcos Alexandre, arquiteto urbanista,  ou qualquer coisa mais atenta que Carlos.
   Carlos também tinha amigos conhecidos em Londres, Durham, Birmingham, Reading e Oxford, inclusive doutores em artes; mas, a princípio partiu sozinho. Só, como sempre esteve. Invadiu um ou dois computadores, comprou um furgão, pintou de cinza claro.
   Ao voltar, por Guarulhos, tomou um carro pela Anhanguera até uma usina abandonada; em poucas horas Cecília o encontrou na delegacia.


 Imagens: Wikipedia (Hong Kong), br.olhares.com (Londrina), photoanswers.co.uk (Londres)

quinta-feira, 22 de julho de 2010

E hoje em dia, como é que se diz eu te amo?

   Minha segunda estada em seu pensamento serviu para alguns acontecimentos (não disse que foram bons acontecimentos): tirei-a dos braços de um grande homem e entreguei-a a um grande idiota; comemos um lanche juntos, conversamos por horas nas noites dos festivais e por muitas horas de conversas fiadas por MSN.
   Coloco o título na postagem, "Nossa história renderia um livro", de repente, ouço uma frase da música "te ver é uma necessidade"... ora, mas a música se chama "Vamos fazer um filme" e Renato Russo conversa comigo esta noite.

 Deus do céu, abro a letra da música no Terra; e vejo a frase "vamos começar de novo", mas eu digitei tal frase segundos atrás no Yahoo Respostas!

   Ouço uma nova frase da música, acho que ficará melhor como título.

"Mas a única maneira ainda
De imaginar a minha vida
É vê-la como um musical dos anos trinta
E no meio de uma depressão
Te ver e ter beleza e fantasia."

    Poxa, eu amo essa garota que já é mulher e pareço conseguir escrever algo novamente. Ela lerá?
Hoje em dia, como é que se diz eu te amo?
Eu a amo;
Ela me amou;
Ela não me ama;

O amor não é solitário.
E, se ela não me ama, é impossível "convencer" alguém a amar alguém.

E as músicas fazem sentido, os jargões fazem sentido e os clichês fazem mais sentido que os belos poemas: "se eu pudesse voltar no tempo", voltaria para aquele dia em que a conheci e não perderia novamente aquela oportunidade.

eu perdi!
É duro perder algo; principalmente quando sua vida é rodeada por conquistas, ou melhor, quando só se conhece a vitória. Alguns fatos menores já anunciavam como a perda é difícil: meu país perder a copa, por exemplo, ainda não consigo compreender. Então, quando isso acontece conosco, bem direto, bem perto...

E se eu pudesse conhecê-la de novo? "Prazer, qual é teu nome? Eu te amo".

Mas a vida não é assim (e graças a Deus as pessoas reencarnam para terem novas chances de começar do zero e evoluir seu espírito; por isso sei que nos encontraremos novamente), como eu a conheceria agora? Não estudamos no mesmo colégio, sequer moramos mais na mesma cidade. E não somos as mesmas pessoas: ela perdeu um tanto de sua graça (depois que começou a namorar o idiota), passou a adorar futilidades, é ateu; logo, que sentido faz para ela a palavar amor? O que ela entende de qualquer sentimento? Eu deixei de gostar de futilidades, eu estou virando um engenheiro e temo em perder minhas palavras, mas obrigado por ter chegado até aqui no texto. Não sou mais aquele cara popular e os acontecimentos não mais me deixam repetir diariamente "hoje é o dia mais feliz da minha vida, por saber que até hoje sempre fui feliz", pois agora, conheci algo sobre infelicidade e vivo, se a vida fosse um filme, naquela parte em que o protagoista está apagado, às vezes treinando, às vezes sofrendo, às vezes simplesmente entregue ou muito ocupado para viver! Droga.

Quem sabe o adeus e nos conhecermos novamente um dia, "prazer, qual é teu nome? Eu te amo?"

Meu Deus, Renato Russo conversa comigo esta noite; ouço agora esta música:


Perdi vinte em vinte e nove amizades
Por conta de uma pedra em minhas mãos
Me embriaguei morrendo vinte e nove vezes
Estou aprendendo a viver sem você
(Já que você não me quer mais)
Passei vinte e nove meses num navio
E vinte e nove dias na prisão
E aos vinte e nove, com o retorno de Saturno
Decidi começar a viver.
Quando você deixou de me amar
Aprendi a perdoar
E a pedir perdão.
(E vinte e nove anjos me saudaram
E tive vinte e nove amigos outra vez)

   Meu Deus, vinte e nove anos é muito tempo para ficar sem ela. Dois anos; por dois anos amou-me; por um ano e meio e por toda minha vida vou amá-la ainda que muito se transforme daquela garota que conheci naquele campeonato escolar, que conheci naquela avenida, no orkut e comunidades sobre animes... Agora eu a perdi e a fiz se perder.

   "Vou escrever seu nome num tijolo, para ver como saudade dói"

   Ouça, a música que toca agora é Epitáfio ;(

   Agora "La Solitudine",
A próxima da playlsit é "Clarrise"; não me lembro dessa;
depois: "Quando você voltar"

Será que tocará "Giz" essa noite?

 Responda essa, google.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

A Princesa Hispano Italiana do Festival

Para acompanhar a postagem, acessei o DeviantART e digito "Italian Spanish Princess"; parece que o site respondeu-me com a imagem "Tanabata Matsuri by Sekisinko".


   Embora eu não tenha aquele roupão japonês nem mesmo saiba qual seu verdadeiro nome, a imagem expressa bem minhas intenções com a postagem e, mais do que isso, meu maior objetivo. Havia uma "Italian Spanish Princess" no festival japonês na noite de ontem.

   Alguma vez seu corpo ficou leve e você volta a sentir que o ededron é macio e, na manhã seguinte, ainda mais leve com todos os seus órgãos e cada pedacinho da alma entregues a alguém?
   Os espíritas dizem que nossa alma acompanha nosso pensamento, então, caro leitor, devo dizer que ela se separou de meu corpo em definitivo e passou a viver há alguns quilômetros, mais precisamente, no bairro Monte Alegre de Ribeirão Preto e às vezes vai ao shopping, ao cursinho ou volta àquelas noites do festival japonês de quando desejei que o tempo parasse.

   Do outro lado da avenida, avistei um ponto brilhante no céu, bem alto, que atraiu a curiosidade do talvez engenheiro. Foi quando minha alma visitou minha casa por alguns segundos; tempo em que eu arremessei o brinquedo para cima do telhado e fui buscá-lo.
   E ao voltar, minha avó falava do desenho dela (da Italian Spanish Princess), exposto  na parede de seu quarto. Escrevo algo no blog, e minha alma se despede de meu corpo novamente, para que se reencontrem, desta vez, quando eu encontrar meu pensamento.

domingo, 4 de julho de 2010

Vida é...
é...
coisa besta de se pensar.
Andy e Eu temos quase a mesma idade,
quase o mesmo corte de cabelo,
quase a mesma história.

Coisa besta é o homem
que inventou o tempo,
criando seu maior inimigo ou, no mínimo, uma abscissa limitante.
Abscissa, coisa besta
coisa besta é limite.
Bonitas são as emoções
Sim, meu caro leitor, todos choraram durante aquele filme
e a Disney, esperta, pediu que assistíssemos com óculos escuros para esconder as lágrimas
(porque de 3D havia quase nada)
Silêncio no cinema.
Agora escrevo, minha vó passa um pano de prato.
Passa desde pequenininha.
"Naquele tempo era só colégio, não tinha faculdade
'quele tempo ninguém vivia sem lenço"

A música
Dizem que a música chega primeiro na alma,
depois no cérebro

E Jesus, aquele, veio pra cá, pra Terra
botar um tempero
chamado amor
nessa vida

Imagens: http://epicbattleaxe.com/eba-all-axecess-tom-salta/ e http://www.justpressplay.net/movies/movie-news/6032-what-to-take-away-from-the-qtoy-story-3q-trailer.html


Tenho um amigo soviético, disse-me uma vez algo mais ou menos assim: não tem lógica julgar Deus, por que a lógica/a ciência só consegue provar o que é lógico e Deus não vem da lógica.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Quaresmal



Qual é a importância de ler isto?
Diga logo que também não te importas
Parecerás só mais alguém normal
E mais um perdido, entre os vis, mas

põe teu santo, toma teu chá e acordas
do mundo que esfacela lá na porta
tecal¹ que não encontro paz a mais
mas essa mosca² que nos fere e atrais

Veneno teu corrompe, mas resisto
Não só me corta a pele ou mata: corta
dentro da alma, e faz lesão modal

Doença, vejo só, brilho corisco³
Do outro, incerto existência fosca
E temo, pois se cura achar jamais

¹ relativo a teca, invólucro protetor 
² praga que passa a ser o interlocutor dos versos oito e nove.
³ Brilho nos olhos indicativo de cólera